Museu Nogueira da Silva | Braga

António Augusto Nogueira da Silva foi empresário, filantropo e coleccionador. Nasceu em Paranhos, na cidade do Porto, a 29 de Janeiro de 1901. Ainda com meses de idade, mudou-se para Braga, distrito ao qual os pais pertenciam: a mãe natural da própria Bracara Augusta e o pai de Fonte de Arcada, pertencente ao concelho da Póvoa de Lanhoso, e o qual se diz ser descendente de Maria da Fonte, figura conhecida por, em 1846, ter instigado uma revolução com o mesmo nome (ou Revolta do Minho).

Aos 18 anos abandonou a escola e dedicou-se às bancas comerciais, iniciando o seu percurso pelos negócios ao lado do pai, tendo desde logo revelando excelentes aptidões para a arte do comércio. O seu brilhantismo nas bancas de comércio fez com que desde cedo Nogueira da Silva fosse solicitado para cargos directivos de diversas associações da cidade. No ano seguinte, com 19 anos, era já jurado comercial e casou com Maria Eugénia Gama Lobo Costa Nogueira da Silva, a 4 de Agosto de 1920.

Nogueira da Silva fundou, em 1933, a Casa da Sorte de Braga, o que o levou a construir um pequeno império na indústria de jogos de sorte e azar por todo o país. Benemérito respeitado da cidade, sempre com a preocupação de intervir a nível social, melhorando as condições de vida da cidade bracarense. Podemos destacar ter sido responsável pela primeira rua calcetada com paralelepípedos em Braga, devido às suas relações na capital portuguesa, e é também considerado como o quase fundador do Sporting Clube de Braga, devido à ajuda financeira que prestou, tendo sido sócio honorário número um do clube mencionado.

Para além das várias homenagens que lhe foram prestadas por associações mais pequenas, foi-lhe ainda atribuído o título de Cidadão Honorário e a Medalha de Ouro da Cidade. Foi também agraciado com distinções honoríficas tanto pelo Estado como pela Igreja,

A descoberta de que a sua esposa não poderia ter filhos fez com que se dedicasse acerrimamente a ajudar instituições e associações ligadas às crianças, bem como famílias carenciadas de Braga. Mais tarde, este será um dos motivos pelos quais doa a sua casa à Universidade do Minho.

António Augusto Nogueira da Silva. Fonte: https://www.facebook.com/Museu-Nogueira-da-Silva-168407656543789

A referida doação acontece em 1975 (um ano antes da morte de Nogueira da Silva), tinha a Universidade do Minho, fundada em 1973, apenas 2 anos de existência. Alguns anos mais tarde, a casa abre como Museu e prolonga o espírito do comendador benemérito. Como referido, não teve descendência e por isso adopta a cidade de Braga como uma das suas principais herdeiras, alegando até no seu testamento que a construção da sua colecção tinha o objectivo de enriquecer o património local.

A casa situa-se na Avenida Central da cidade de Braga e foi uma herança de família. Já não se encontra no estado original, pois Nogueira da Silva empreendeu obras tanto no edifício como no jardim. Obras essas que ficaram a cargo do arquitecto Raúl Rodrigues Lima (1909-1979), com várias obras do Estado Novo no curriculum, que respeitou a identidade de aparato que tanto agradava ao filantropo, algo que podemos ver em elementos como a nobreza dos materiais e a robustez estética característica da época com um toque Art Déco.

Para além disso, Raúl Rodrigues Lima foi o responsável por encarregar Jorge Barradas (1894-1971), António Lino (1914-1996) e Fred Kradolfer (1903-1968) pelo espaço exterior.
O primeiro introduziu temas e figuras da História do país e da cidade, como a festa de S. João ou o Conde D. Henrique, nas esculturas do jardim e painéis de azulejos. O segundo ficou encarregue do mosaico na entrada principal onde representou, por exemplo, D. Teresa, D. Henrique e São Furtuoso. O terceiro ficou a cargo da decoração da fachada onde são visíveis rosáceas de granito. Esta última questão originou a inspiração para o tecto do salão principal no qual podemos ver os brasões dos concelhos do distrito de Braga, na sempre presente ideia de oferta da sua casa à cidade.

Fachada do Museu Nogueira da Silva. Fonte: https://www.cm-braga.pt/

A colecção de António Augusto Nogueira da Silva engloba vários tempos, escolas e autores, bem como as mais variadas expressões artísticas, com peças (adquiridas sobretudo em leilões e antiquários em Portugal e Inglaterra) que viajam entre a Pintura, o Mobiliário, a Ourivesaria, a Faiança, a Escultura, a Cerâmica, a Porcelana, os Vidros e a Tapeçaria. O seu gosto por coleccionar não se prendia com o valor museológico das peças, sendo que todas elas eram utilizadas para o fim a que se destinavam, incluindo os serviços de loiça chinesa.

Os elementos desta sua colecção eram integrados na decoração da casa, correspondendo a uma visão de ambientes brilhantes às quais a própria arquitectura da casa correspondia, tal como já referido. O edifício servia de palco aos objectos que eram admirados por muitos, incluindo elementos da Igreja e do Estado que por lá passavam frequentemente.

A organização museológica do espaço ficou a cargo da Universidade do Minho, aquando a doação em 1975 e é possível apontar a criação de alguns elementos: as garagens foram adaptadas e são agora palco para a realização de exposições temporárias; criação de um Centro de Documentação Fotográfica para reunir e tratar as memórias em suporte de papel; disponibilização de espaços para a realização de actividade culturais complementares, conferências e concertos.

Apesar do grande número de peças, é possível sinalizar 3 grandes destaques na colecção: a cerâmica, principalmente a porcelana; os objectos híbridos (como os indo-portugueses) que mostram o contacto de Portugal com outros povos e culturas; os temas religiosos tanto na Pintura como na Escultura, algo explicado pela fé de Nogueira da Silva e pela maciça produção artística deste tema ao longo dos séculos.

A colecção de Pintura engloba obras estrangeiras e portuguesas dos séculos XVI-XVIII, bem como um conjunto de pintura flamenga do século XVI. Podemos destacar alguns pintores como Henrique Medina (responsável pelos retratos de Nogueira da Silva e esposa), André Gonçalves, António Saúde, sir Henry Raeburn, Ricardo Hogan, Annibale Carraci, Carlos Reis, Veloso Salgado, Emmerico Nunes, Simões Rodrigues, entre outros.
Há também várias obras de autor desconhecido que aliciam os historiadores a analisar a colecção com mais detalhe, embora represente um desafio.

A colecção de Escultura contém sobretudo peças de Jorge Barradas, tanto no interior como no exterior, uma notável colecção de marfins europeus, japoneses, luso-orientais e hispano-filipinos, e 2 pares de presas de elefantes.

As peças de Porcelana reflectem o gosto pelas outras culturas que Nogueira da Silva tinha, como os marfins ou o mobiliários indo-português, uma vasta gama de loiças encomendadas e provenientes da China e ainda colecções Sevres, Limoges e Vista Alegre. A qualidade e quantidade destas peças revela como era uma das áreas favoritas do coleccionador, ao contrário da colecção de Faiança que tem menor relevância, embora contenha algumas peças notáveis.

Na ourivesaria temos peças com proveniência do Porto e de Lisboa, mas o orgulho do Museu reside nas que têm marca de Braga. Reflecte o gosto dominante por entre os coleccionadores portugueses, sendo que as prata mostram grande riqueza a nível da Arte Sacra.

Natzuke em forma de rato de Tomatade, século XVIII.

Fonte: https://www.cm-braga.pt/

Autor desconhecido, Grinalda de frutas e legumes com coração da Virgem, óleo sobre tela, séculos XVII-XVIII.

Já no espaço exterior, o jardim do século XX é inspirado nos jardins franceses e mostra obras de época e outras mais antigas, como acontece com os painéis de azulejos pombalinos e holandeses do século XVIII e com as 3 fontes, uma delas proveniente do Mosteiro de Tibães, também em Braga. Em todo este espaço há ainda uma forte presença de Escultura, seja de corpo inteiro ou bustos.
No pátio de quota mais baixa é onde podemos encontrar os já mencionados azulejos de Jorge Barradas, sendo por isso conhecido como “Terreiro Jorge Barradas”.

Fonte: https://www.cm-braga.pt/

Numa visita ao Museu Nogueira da Silva podemos observar o amor que o benemérito que lhe dá o nome tinha por tudo quanto o que coleccionava, mesmo dando o uso devido às várias peças. Percebemos que, para ele, foi uma questão de pôr todos os itens à sua disposição (decorativa e funcional) e por isso deixou-nos uma colecção tão vasta nesse sentido de técnicas, estilos e até culturas e proveniências.
Várias das salas, como a sala de jantar, estão dispostas como aconteceria no tempo de Nogueira da Silva e é quase como se estivéssemos a fazer parte de um dos seus muitos jantares ou festas.
O jardim dá-nos espaço para um bom passeio que se faz sempre pontuado da companhia das várias esculturas e é, sem dúvida, a continuação do interior no exterior.

Apesar da sua linhagem numa família de grandes posses e do seu sucesso no mundo dos negócios, António Augusto Nogueira da Silva foi, sobretudo, um homem de grandes causas, não tendo problemas em ajudar quem precisasse, fosse uma instituição, um clube de futebol ou a própria cidade com a melhoria das suas condições rodoviárias. Característica esta que culmina na doação da sua casa à Universidade do Minho e que, agora como Museu Nogueira da Silva, merece a vossa visita.

Horário: Terça a Sexta das 10h às 12h e das 14h às 17h30; Sábado das 14h às 17h30.
O bilhete de entrada tem o custo de 2€ e podem escolher entre uma visita guiada com um dos funcionários do Museu ou usar um audio-guia.
Para mais informações consultem o site do Museu.

6 pensamentos sobre “Museu Nogueira da Silva | Braga

  1. Tantas vezes passei nesta casa, quando estava em Braga e não fazia ideia do quão bonita e carregada de história está. As rosáceas são de facto, lindas. Foi bom conhecer o seu interior (uau, aquelas escadas são impressionantes!)

    Saudades de poder passear por Braga 🙂 este será um sitio a conhecer numa próxima visita.

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