Museu do Vitral | Porto

A cidade do Porto continua a dar cartas no que toca à abertura de novos espaços museológicos. Um dos mais recentes é o Museu do Vitral, inaugurado em Agosto deste ano. Localizado junto à Sé da Invicta, veio dar uma nova vida à Casa da Vandoma que foi requalificada de modo a reunir as condições necessárias para acolher o Museu.
Este núcleo museológico, que é exemplo único na Península Ibérica e um dos poucos em todo o mundo, é o tema do presente artigo. Uma viagem de cor e luz que apela às sensações.

A Arte do Vitral em Portugal remonta às construções Góticas, estando bastante associada aos mosteiros e catedrais da época. A cor e a luz combinavam-se num plano espiritual para uma íntima comunhão entre Deus e os Homens. A Arte Portuguesa foi influenciada pelo que se fazia, desde o século XII, em países como a Alemanha, a Flandres, a França e a Inglaterra. O intuito dos vitrais era, e é, essencialmente o de celebrar eventos sociais, vitórias políticas, mas sobretudo apelar aos sentidos dos fiéis através dos feixes de luz coloridos que percorriam os espaços.
Para além das Igrejas, é ainda possível ver vitrais em edifícios públicos, edifícios privados e em casas da alta burguesia, projectos sempre provenientes de encomendas de pessoas com mais posses económicas.

No Museu do Vitral podemos ver uma compilação de trabalhos de João Aquino Antunes, que é agora o último pintor português que se dedicou à arte dos vidros. Aquino Antunes descende de uma família ligada a este mundo e que em 1906 fundou o Atelier Vidraria Antunes, o mais antigo atelier de vitrais em Portugal e de onde saiu, por exemplo, o tecto de vitral da Livraria Lello. Ainda assim, decidiu levar o seu conhecimento mais longe e estudou na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, o que lhe permitiu ser o primeiro a conceber os vitrais de raiz e não a partir dos desenhos de outros, como fizeram o seu pai e o seu avô. Desta vidraria centenária é ele o seu último artista, sendo que já há cinco anos que não consegue desenhar, embora mantenha as ideias a fluir. Para além de aprendiz, também leccionou nessa instituição, algo que fez durante quase 40 anos, até 2008, tendo sido o seu primeiro professor de vitral.

A vontade de abrir um museu era já antiga e terá nascido a partir de uma conversa com Júlio Resende (1917-2011) que incentivou Aquino Antunes a partilhar um pouco do seu atelier com o público. O impulso económico para concretizar esta ideia partiu da The Fladgate Partnership (Taylor’s, WOW, Vogue Café, entre outros), grupo responsável pela curadoria do museu. Este manteve uma relação e ligação estreita com a família do mestre, de modo a que conseguissem ser o mais fiéis possível ao que este vinha idealizando.

João Aquino Antunes na Revista Notícias em 1994.

Em termos práticos, no Museu do Vitral podemos encontrar obras realizadas ao longo dos anos pelos mestres do Atelier Vidraria Antunes, com maior destaque para as últimas quatro décadas a cargo de Aquino Antunes. Entre os vários exemplares expostos, há réplicas de várias obras feitas para edifícios, bem como algumas obras únicas pertencentes à colecção particular do artista.

As salas do museu mostram desde o lado mais tradicional dos vitrais, portanto os que seguem a tal temática religiosa, mas também outras peças que revelam a variedade de trabalhos que resultam desta Arte, incluindo painéis abstractos. Logo, não estranhem se pelo Museu do Vitral virem a Sagrada Família ou a Rainha Santa Isabel a confraternizar com Camilo Castelo Branco e grisalhas.

Cada painel exposto é acompanhado de esboços para ele realizados, bem como fotografias da aplicação no local para o qual foi encomendado, sendo-nos possível ter uma visão completa do processo desde o desenho primário em papel até à sua colocação final.

Atelier Vidraria Antunes, Rainha Santa Isabel (detalhe), 1963.

Atelier Vidraria Antunes, Grisalhas, c. 1985.

Atelier Vidraria Antunes, Camilo, 1983.

Mas o Museu do Vitral é também um espaço de aprendizagem e, por isso, ao longo das várias salas, ficamos a saber mais sobre a Arte dos vitrais, desde o momento do seu esboço até à altura em que todos os vidros estão unidos no seu resultado final. É-nos dito como se cortam, unem e limpam as pequenas peças coloridas e como com elas se faz aparecer o desenho pretendido.

Sendo este um mundo de cores, este é um elemento que não é deixado de parte. A Simbologia das Cores é um dos núcleos museológicos do espaço; a mesma cor tem significados distintos em diferentes culturas e por isso há uma atenção acrescida que se deve ter aquando a realização do trabalho.

Atelier Vidraria Antunes, Homenagem para Camarinha, c. 1965.

Atelier Vidraria Antunes, Ressurreição, 1986.

Como seria de esperar, o Museu do Vitral torna-nos mais próximos dos vitrais. Não só conseguimos agora vê-los à nossa frente e perceber todos os detalhes que os fazem, como saímos deste espaço com uma ideia muito organizada do trabalho que envolve esta Arte.

As cores assaltam-nos em todas as direcções e tornam mais palpável algo que, normalmente, está a um alcance longínquo do nosso olhar. É, portanto, um museu que apela à visão e à emoção, tornando um pouco mais nosso o que apenas aos mais eruditos estava (e continua a estar) acessível.

É um museu importante de visitar, principalmente pela representação que faz de três Histórias diferentes, mas que, ainda assim, estão intimamente ligadas: a do Atelier Vidraria Antunes (sobre o nome de João Aquino Antunes), a da cidade do Porto e a de Portugal. Sem dúvida uma mais valia para o panorama museológico português que nos permite ainda ver alguns vestígios anteriores do local onde a casa se ergueu: a Casa da Vandoma é a antiga casa de uma família burguesa, o que permitiu encontrar ruínas seculares da muralha primitiva do burgo medieval. Agora, vidros coloridos coabitam com elementos pertencentes à construção.

Atelier Vidraria Antunes, Sem Título, 1997.

O mundo dos vidros coloridos conta assim com um local que nos explica todo o processo, que nos fala da importância e significado das cores e que está repleto de exemplos de painéis de vitrais que nos deixam boquiabertos por todos os pormenores que percebemos envolver um trabalho destes.

A Casa da Vandoma, estando inserida no Morro da Sé, na zona Histórica do Porto, integra a Lista do Património Mundial da UNESCO. Este pormenor permite que o museu esteja ainda em crescimento, sendo que brevemente o mesmo terá acesso a uma das ruas mais antigas da cidade, localizada atrás da Catedral, bem como a algumas das suas casas.

Parede Pombalina.

O Museu do Vitral está aberto diariamente das 10h30 às 19h30. O custo de entrada para um adulto é de 8€, preço no qual está incluído um cálice de Vinho do Porto Taylor’s. Para as crianças dos 8 aos 17 o bilhete tem o custo de 4€.
Para mais informações podem consultar o website do Museu do Vitral.

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