Ângelo de Sousa – Árvores | Culturgest Porto

No dia 26 de Março, a Culturgest do Porto inaugurou a exposição Ângelo de Sousa – Árvores, uma mostra que reúne vários trabalhos a que o artista chamou de “árvores” e que mostram a sua vertente de experimentação constante do seu trabalho, bem como o voltar constante a este tema.
Este é o nono e último momento do ciclo Reacção em Cadeia, numa colaboração entre a Fidelidade Arte e a Culturgest, com curadoria de Delfim Sardo e Bruno Marchand.

Ângelo de Sousa (Lourenço Marques, 1938 – Porto, 2011) começou a pintar ainda na sua cidade natal. Em 1955, com 17 anos, muda-se para o Porto para estudar Pintura, na Escola Superior de Belas Artes. Acaba o curso em 1962 com a nota máxima de 20 valores, algo que faz com que, em 1968, juntamente com Armando Alves, Jorge Pinheiro e José Rodrigues, funde e integre o grupo “Os Quatro Vintes”, o qual existe até 1972. Após acabar o curso, é convidado a integrar o corpo docente da mesma instituição, cargo que ocupa até 2000.

Artista que se movimenta na Vanguarda, no Experimentalismo e no Minimal, trabalhando em múltiplas valências como a escultura, a pintura, o desenho, a gravura, a serigrafia, a cerâmica, a instalação, a fotografia, o vídeo, o filme, a cenografia. Deixou de lado os detalhes sobre o Neo-Realismo, a Figuração e a Abstracção, movimentando-se no seu interesse pela gravura oriental, a Arte Bruta, o Expressionismo, as artes primitivas e exóticas. Interessa-se ainda pelos movimentos Op e Pop Art, Colour Field e Post Painterly Abstraction. O seu trabalho é caracterizado pelo modo experimental alimentado por abandonos e retornos às várias técnicas e temas que abordou, mantendo-se sempre no uso da não figuração, o uso de séries como meio de experimentação, economia de meios e formas, objectividade representativa.
Ângelo de Sousa foi um protagonista fundamental da cena artística portuguesa desde a década de 1960 e as suas suas obras estão presentes nos principais museus de Arte Contemporânea.

Em 1958, com cerca de 20 anos, começou a desenhar figuras que se assemelham a árvores, uma temática que acompanharia toda a sua vida e carreira artística e que fazia de forma mais ou menos constante variando a intensidade de produção. Referiu numa entrevista que estas foram as primeira peças relevantes que fez enquanto artista.

Chamava-lhes “árvores” – não como quem dá um nome, mas como quem põe uma alcunha.

As dezenas de obras que ocupam as paredes da Culturgest acompanham o movimento que Ângelo de Sousa levou a cabo com as árvores entre 1958 e o virar do século. As primeiras virtuosas e até pormenorizadas, as segundas que se assemelham já a massas espessas com grumos como se fossem tubérculos. São sucessivas folhas A5 que se apresentam na vertical nas quais variam as cores, materiais, texturas, inclinações, formando o grande e singular mapa da “árvore” aos olhos do artista.

Árvores com mais ou menos textura, árvores com mais ou menos folhagem, árvores mais ou menos volumosas, árvores delineadas e árvores preenchidas. Os diferentes materiais a que Ângelo de Sousa recorreu e os vários tipos de traço mostram o tal lado da experimentação que sempre o acompanhou.

A diferença entre as várias árvores permite-nos criar diversas ligações com as árvores existentes na Natureza e tentar perceber o que são, mesmo que sejam só fruto da imaginação do artista.
Ângelo de Sousa tem aqui uma tentativa de perceber o quão longe conseguia ir nas suas formas sem que o que desenhava deixasse de lembrar uma árvore, testando os limites sem perder a essência. Este trabalho resultou em milhares de desenhos com esta temática, dos quais o artista guardou apenas os que pareciam funcionar dentro dessas “regras”. Alguns serviram como base para desenhos maiores e até pinturas. Todos, sem exceção, são fruto de um modo de fazer que, para “funcionar”, precisava de obrigar a mão a seguir o que a imaginação via pairar, como um fantasma, na superfície da folha. Sem desvios, sem divagações.

Os desenhos que aqui apresentamos são fruto desse exercício que Ângelo de Sousa fez toda a vida; dessa constante busca pela capacidade de tornar o coeficiente artístico igual a zero.

A exposição Ângelo de Sousa – Árvores pode ser visitada até 12 de Junho, na Culturgest do Porto, de Terça-Feira a Domingo, das 13h às 18h.
A entrada é gratuita.
Para mais informações: Culturgest.

Deixe um comentário