Castelo de Almourol | Vila Nova da Barquinha

É o ex-libris do concelho de Vila Nova da Barquinha, em Santarém, e é um dos monumentos medievais mais emblemáticos da Reconquista Cristã. Falo, claro, do Castelo de Almourol, símbolo militar de outros tempos e um dos testemunhos da presença dos Ordem dos Templários em Portugal. Monumento Nacional desde 1910, é conhecido por integrar uma paisagem de cortar a respiração e é ele, claro está, motivo principal deste artigo.

O Castelo de Almourol situa-se numa pequena ilha escarpada, no curso médio do Rio Tejo, construído em cantaria de granito e alvenaria argamassada, num afloramento de granito 18 metros acima do nível da água.

Não se sabe ao certo quais as origens e a história inicial do Castelo de Almourol, apenas que em 1129 já existiria algo naquele local sob o nome “Almorolan”.
As opiniões dos historiadores apontam para a possibilidade de aqui se ter instalado um primitivo reduto lusitano, ou pré-romano, posteriormente conquistado por estes, e com vagas de ocupação ao longo de toda a Alta Idade Média. A identificação de vestígios romanos, nomeadamente moedas, no local, bem como o achado de traços característicos da construção romana nas bases e fundações do Castelo, levam a crer que por lá passaram, provavelmente durante o século I a.C.
A partir do século III terão sido os Alanos a passar pelo local, povo a quem os Visigodos tomaram o espaço uns séculos depois. No século XVIII, são os Mouros a conquistar o Castelo e então a denominá-lo “Al-Moralan” (pedra alta).

A partir da Reconquista Cristã levada a cabo pela tropas portuguesas, é mais fácil documentar a história do Castelo de Almourol, sendo que foi recuperado aos Mouros em 1129.
Como forma de agradecer a ajuda prestada em combate, D. Afonso Henriques, na altura ainda Conde de Portucale, oferece esta e outras estruturas militares aos Cavaleiros Templários, a primeira ordem militar da história e que desempenhou um papel fundamental na Reconquista Cristã. D. Gualdim Pais, 6º Grão-Mestre da Ordem dos Templários, vai ficar responsável por este local, sendo ele o fundador dos Castelos de Almourol, Idanha-a-Nova, Monsanto, Pombal e Tomar.

É, então, com os Templários e com D. Gualdim Pais que se inicia a primeira fase de construção do Castelo, dando-lhe mais-ou-menos a estrutura que vemos nos dias de hoje, numa intervenção que, segundo uma placa colocada acima da porta de entrada do Castelo, fica concluída em 1171, dois anos depois da conclusão do Castelo de Tomar.

Alguns dos elementos característicos das construções Templárias são aqui visíveis: a disposição quadrangular dos espaços; as muralhas com nove torres circulares adossadas; e a torre de menagem que se assume como ponto central da estrutura. As duas últimas características são dois elementos inovadores dos Templários, sendo que, por exemplo, o primeiro castelo com torre de menagem em Portugal é exactamente o de Tomar, sendo esse um elemento estranho a este tipo de construção até então.
Outra característica da construção dos Templários é o alambor ou talude, elemento que consiste no aumento da espessura da base da muralha, que não é construída na vertical, como forma de dificultar o assalto ao Castelo. A título de curiosidade, investigações revelam que o Castelo de Almourol não terá sofrido assaltos, algo que também pode estar relacionado com o facto de se encontrar rodeado por água.
O excelente aproveitamento do local revela a mestria da construção dos Templários e a utilização de materiais antigos romanos (inscrição funerária na face interna da porta) e talvez visigóticos (pequenos fragmentos de frisos) revelam que terão avançado na construção com alguma velocidade.

Nesta altura, o Castelo de Almourol faz parte da linha defensiva do Rio Tejo e da capital, então Coimbra, juntamente com os castelos de Tomar, do Zêzere e da Cordiga.
Durante quase dois séculos foi o posto de controlo dos barcos de mercadorias (trigo, azeite, madeira, carne de porco e frutas) que percorriam o Tejo de e para Lisboa, sendo que esta era a principal via de comunicação com a cidade até ao século XVIII.

A Ordem Templária é extinta no século XIV, mais precisamente em 1371, pelo Papa Clemente V, durante o reinado de D. Dinis. Esta decisão prende-se com o facto de a Reconquista Cristã avançar em direcção a sul. O Castelo de Almourol passa a pertencer à Ordem de Cristo, mas rapidamente cai no esquecimento.

A este abandono, que significa a falta de manutenção do Castelo, juntámos ainda os danos que a estrutura sofreu com o Terramoto de 1755.
Memórias paroquiais do ano seguinte, 1756, referem que já há pelo menos 100 anos que estaria abandonado.

É, então, no século XIX que se dá maior campanha de restauro já realizada no Castelo de Almourol, sendo que o aspecto geral que vemos nos dias de hoje remonta aos valores do Romantismo.
O ideal romântico de medievalidade tinha o objectivo de tornar monumentos medievais emblemáticos naquilo a que chamamos obras-primas. Para esse efeito, muitas estruturas primitivas foram sacrificadas, vendo os seus traços militares mais robustos a aparecer agora de forma suavizada.
Muitos dos elementos decorativos datam desta altura e não serviam/servem para muito mais do que efectivamente adornar o castelo, sendo muito pouco práticos, tal é o caso das ameias (aberturas nos parapeitos) e dos merlões (intervalos dentados das muralhas) inseridos nas muralhas.
Embora se tenha noção de que houve, pelo menos, estes acrescentos à estrutura do Castelo, desconhece-se o verdadeiro impacto que o restauro romântico teve no espaço.

A 27 de Junho de 1938, o Castelo de Almourol foi palco de uma festa com banquete medieval que teve como anfitrião António de Oliveira Salazar. Para o efeito, o Castelo foi alvo de obras de restauro e foi adaptado de modo a receber comodamente os convidados.
Já em 1950, o Castelo foi adaptado a Residência Oficial da República Portuguesa, sendo palco de mais eventos do Estado Novo. As reinvenções destes anos 1940 e 1950, aliados às alterações românticas, contribuíram para a mística cenográfica que ainda hoje se faz sentir.

Estas três fases (Templários, Romantismo e Estado Novo) são aquelas onde se verificaram a maior parte das construções e alterações ao Castelo de Almourol. Resta-me agora deixar-vos com a descrição de como se encontra nos dias de hoje, seguindo a linha de pensamento de construção que D. Gualdim Pais inseriu como base.

O Castelo contém dez torres e é composto por dois redutos: o recinto inferior/exterior e o recinto superior/interior. Cada um deles possui um adarve/caminho de ronda autónomo, elemento característico dos castelos medievais que circunda o topo das muralhas e dá acesso às várias torres e ameias. Esta concepção moderna do espaço torna o acesso a todo o Castelo muito complicado às forças invasoras, pois mesmo que consigam entrar na zona inferior, a zona superior está totalmente protegida por soldados e serve como excelente ponto de manobra para lançamento de setas.

O recinto inferior/exterior é aquele a que temos acesso a partir da porta de entrada principal do Castelo, esta construída com arco de volta redonda.
Nesta zona, surgiram vestígios de muros de antigas casas. Sabe-se que, em 1170, Almourol recebeu carta de foral entregue pelo próprio D. Gualdim Pais, sendo que os Templários são responsáveis pelo repovoamento entre o Mondego e o Tejo. Esta carta significa que o Castelo era habitado por um contingente militar que tinha nas suas obrigações proteger a fortificação, o rio, a região circundante e a sua população. Sobre esta população nunca surgiram indícios fora do recinto muralhado e, por isso, esses vestígios de muros de habitações confirmam que a opção mais plausível era a de que, efectivamente, o povo estava também concentrado dentro das muralhas.

Delimitação de zona habitacional.

Já o recinto superior/interior é acedido por uma segunda entrada, cuja porta, à semelhança da principal, é também acompanhada por uma placa que refere a data de 1171 e que enaltece D. Gualdim Pais. Esta porta dá, então, acesso ao complexo defensivo, usado exclusivamente pelos soldados, deixando a zona habitacional para trás. É também onde se localizam a torre de menagem e os torreões circulares e semi-circulares.

A torre de menagem do Castelo de Almourol é uma das cinco torres de menagem portuguesas mais antigas e datadas. Sofreu várias alterações ao longo dos tempos, sendo que a sapata se mantém como um dos vestígios originais e fornece-nos a dimensão geral da estrutura, bem como a Cruz Templária sobre a janela de uma das fachadas, as seteiras e a porta de entrada instalada a 2.8 metros do nível do pátio.
Com cerca de 20 metros de altura divididos em três andares apresenta-se hoje com um interior renovado entre 2013 e 2014 e recebe o público como espaço museológico que nos conta a História dos Cavaleiros Templários e do Castelo de Almourol. É ainda possível visitar um terraço panorâmico no qual podemos desfrutar de vistas deslumbrantes.

Escadas de acesso ao adarve e torre de menagem.

Mini-cronologia do Castelo de Almourol:
*em 1129, passa a pertencer à Ordem dos Templários;
*em 1171, termina a construção do Castelo de Almourol;
*em 1371, dá-se a extinção da Ordem dos Templários;
*em 1385, 15 dias antes da Batalha de Aljubarrota, sofreu um incêndio – em escavações foram encontrados três medalhões medievais que remontam a esse acontecimento;
*no século XIX dá-se renovação ao modo do Romantismo;
*em 1898, é cedido à Escola Prática de Engenharia de Tancos;
*a 16 de Junho de 1910, classificada como Monumento Nacional;
*nas décadas de 1940 e 1950 é utilizado pelo Estado Novo;
*desde 2006 pertence ao Exército, sendo o prédio nº 6 do Regimento de Infantaria nº 1, que passou para administração da Câmara de Vila Nova da Barquinha através de um protocolo celebrado entre ambas as partes;
*em 2007, foi um dos 21 finalistas da eleição 7 Maravilhas de Portugal;
*entre 2013 e 2014 sobre obras de restauro;
*em 2018 sofre nova intervenção.

Uma das coisas mais interessantes sobre a visita ao Castelo de Almourol é que o seu acesso faz-se de barco, ou não estivesse a construção localizada numa ilha, como já referido.
Toda a visita é bastante informativa, desde aquilo que nos contam durante a viagem de barco até ao local aos placares que se encontram em vários pontos do Castelo (não esquecendo a exposição na torre de menagem) e que falam um pouco das coisas que vemos e do que outrora poderíamos ter visto.

No entanto, é também neste aspecto que temos um pouco mais de noção do efeito que as alterações climáticas têm em locais como este.
Se aquando a minha visita em Setembro de 2021 já era baixo o caudal do Rio Tejo nesta zona, depois de tantos meses de seca, a ilha onde se localiza o Castelo de Almourol atingiu um estatuto de península. Foi necessário incluir sinais de proibição de “travessia” a pé – não se esqueçam, o acesso faz-se sempre de barco, até por questões de segurança.
Um Castelo que acompanha todas as alterações que vieram com os séculos XX e XXI e que passou de ver o Rio que o apoia a servir de estrada para grandes cargas, havendo alturas em que as águas atingiam os cinco metros em redor do Castelo, para nos dias de hoje já não ser cenário para nada disso.
Para além das alterações climáticas, também a construção da Barragem do Castelo do Bode, em 1951, propiciou à diminuição do caudal do Rio Tejo neste local.

O Castelo de Almourol está aberto para vos receber nos seguintes horários:
*de 1 de Novembro a 29 de Fevereiro, de Terça-Feira a Domingo, das 10h às 13h e das 14h30 às 17h30;
*de 1 de Março a 31 de Outubro, de Terça-Feira a Domingo, das 10h às 13h e das 14h30 às 19h;
*de 1 de Maio a 30 de Setembro, todos os dias, das 10h às 13h e das 14h30 às 19h.
Tem um custo de 4€ por pessoa e o bilhete inclui a viagem de barco, visita ao Castelo e ainda visita ao Centro de Interpretação Templário.
Para mais informações: Castelo de Almourol.

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Referências:
Visita ao Castelo de Almourol, em Setembro de 2021;
Almanaque Literário – Castelo de Almourol – Templário;
Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha – Castelo de Almourol;
Castelos de Portugal – Castelo de Almourol;
Daniela Santos Araújo – Castelo De Almourol: Melhores Dicas Para Visitar Em 2023;
Diário de Notícias – Ilha do Castelo de Almourol é, agora, uma península devido à seca;
Lisboa Secreta – Castelo de Almourol: fortaleza da Ordem dos Templários no Tejo;
Monumentos.Gov – Castelo de Almourol;
National Geographic Portugal – Castelos de Portugal – Revisitamos o Passado em Almourol;
RTP Ensina – O Castelo de Almourol;
Visit Portugal – Castelo de Almourol.


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