Isolino Vaz. Um Traço Inconfundível (1922-1992) | Biblioteca Pública Municipal de Gaia

No passado dia 21 de Janeiro, inaugurou, na Biblioteca Pública Municipal de Gaia, a exposição Isolino Vaz. Um Traço Inconfundível (1922-1992), a qual conta com o apoio do Município de Vila Nova de Gaia com organização do Pelouro da Cultura e da Associação Cultural Amigos de Gaia. Esta mostra, com curadoria de José Silva e co-curadoria de Sérgio Vaz (neto do artista), serve como encerramento da celebração do centenário do nascimento do artista, o qual tem vindo a ser celebrado desde o ano passado com alguns eventos.

Seguindo a leitura deste artigo poderão perceber o que podem encontrar ao visitar esta exposição, mas também conhecer um pouco melhor este Mestre Isolino Vaz, assim conhecido no mundo académico e no mundo artístico. Um espírito inquieto ao nível da temática que quis mostrar das mais variadas formas, ao mesmo tempo que queria partilhar o seu conhecimento técnico com os outros, dedicando-se ao ensino, sendo, desde então, uma personalidade reconhecida a nível pedagógico e cultural.

(…) traz à memória colectiva a personalidade, a arte e o essencial que caracterizou a sua vida exemplar.*

Isolino Vaz nasceu na Madalena, em Vila Nova de Gaia, a 23 de Abril de 1922.
Foi em 1940 que pintou o primeiro retrato, iniciando assim uma vida activa em Pintura. Três anos depois, em 1943, ingressa na Escola Superior de Belas Artes do Porto, conseguindo logo nesse ano o Segundo Prémio José da Costa Meireles Rodrigues Júnior. Dois anos mais tarde, é-lhe concedida, pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, uma pensão anual, após a obtenção de um novo prémio.
O seu percurso como professor começou em 1946 na Escola Industrial de Arte Aplicada de Faria Guimarães, no Porto, tendo uma carreira que passou por outros locais como a Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, a Escola Secundária de Valadares e a Escola Marquês de Pombal, esta última já em Lisboa. Dos seus alunos de Desenho podemos destacar nomes como Álvaro Siza Vieira, Alcino Soutinho, Graça Morais e Joana Vasconcelos.
A sua ocupação como professor proporcionou a que organizasse inúmeras visitas de estudo, dentro e fora de Portugal, sendo que transpunha também esse lado educativo em visitas culturais para fora da carreira de docência.
É já depois de se iniciar como professor que apresenta, em 1956, a sua tese. “Emigrantes” valeu-lhe a conclusão do curso de Pintura com a classificação de 19 valores. Mostra já aqui a inclinação temática da sociedade que a sua obra seguia e seguiria.
Viria a falecer em Lisboa a 21 de Julho de 1992.

Isolino Vaz, em acções de cidadania, alertou para os vícios/dramas da humanidade. Denunciou e apontou as desigualdades sociais de então. Gravou-as na diferença e na exaltação com a sua arte. Rejeitou a inércia, o banal, o deixar andar, testemunhas disso são os temas abordados na sua obra.**

Isolino Vaz, Auto-retrato, lápis sobre papel, 1971.

Isolino Vaz, Emigrantes, óleo sobre tela, 1956. Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.

A exposição Isolino Vaz. Um Traço Inconfundível (1922-1992) nasce com o intuito de divulgar o espólio de um artista plástico multifacetado, algo que podemos ver não só nos vários suportes que trabalhou como também nos variados temas que decidiu abordar, mostrando-se alguém consciente do seu tempo e conhecedor dos problemas que o atravessam, o que o tornou um homem e artista de causas. Alinhado com o panorama artístico da segunda metade do século XX, utilizou a sua arte, apostada sobretudo numa estética Neorrealista, como meio para mostrar a preocupação social que tinha pela comunidade que lhe era mais próxima, mas também pelo país e pelo mundo em geral.

Para além de se dedicar a mostrar os temas fracturantes da sociedade, criou também vários retratos e auto-retratos.

Eu acuso, seria talvez este o lema que mais o caracterizava.**

Isolino Vaz, Criança Abandona, crayon sobre papel, 1978.

Esquerda: Isolino Vaz, Dr. António Luís Gomes, carvão sobre papel, 1961.
Centro: Isolino Vaz, Óscar Lopes, carvão sobre papel, 1961.
Direita: Isolino Vaz, Desconhecida 05, carvão sobre papel, 1961.

Isolino Vaz, Mineiro do Pejão, grés, 1959.

Isolino Vaz não só pintou a fresco, óleo, aguarela e crayon, como ainda desenhou litografias, caricaturas, retratos e ilustrações para publicações periódicas, livros escolares, obras literárias e poéticas de vários autores e ainda capas de discografia. Fora do plano 2D, dedicou-se ainda à escultura e à produção de medalhas, selos, vitrais e azulejos.

A exposição patente na Biblioteca Pública Municipal de Gaia mostra exactamente toda essa versatilidade com a qual Isolino Vaz criava. Os temas, os estilos e as paletas cromáticas variadas. Os trabalhos mais realistas e aqueles que se assemelham quase a cartoons, mas sem nunca tirarem a importância ao assunto representado. Trabalhos com grande apontamento no detalhe e outros nos quais os pormenores ganham uma dimensão secundária, pois o importante é perceber o ambiente da cena que nos é apresentada.

É, no fundo, uma exposição que se apresenta como um portfólio vivo do artista gaiense e que leva a que a sua obra seja redescoberta por uns e descoberta por outros, abrindo portas a novos estudos sobre ela.
100 anos após o seu nascimento e 30 anos após a sua morte, a obra de Isolino Vaz consegue ainda comunicar, porque os temas deste artista são, infelizmente, ainda e também os nossos e conseguimos não só percebê-los e identificá-los como igualmente criar uma relação com este mundo representado.

Uma obra tão vasta e variada como esta merece uma apreciação maior do que a que se verifica nos dias de hoje.

Isolino Vaz, Estudo para os vitrais do Santuário do Monte da Virgem, grafite sobre papel, 1982.

A exposição Isolino Vaz. Um Traço Inconfundível (1922-1992) pode ser visitada até ao dia 22 de Abril, na Biblioteca Pública Municipal de Gaia, de Segunda a Sexta-Feira das 9h30 às 19h30 e aos Sábados das 9h às 17h.
A entrada é gratuita.
Para mais informações, consultar Isolino Vaz. Um Traço Inconfundível (1922-1992).

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Referências:
Visita à exposição Isolino Vaz. Um Traço Inconfundível (1922-1992);**
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia – Isolino Vaz. Um Traço Inconfundível (1922-1992);*
Sigarra, Universidade do Porto – Isolino Vaz.

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