Édipo/Antígona – Desenhos de Siza Vieira com Textos de Valter Hugo Mãe | Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto

No passado dia 28 de Fevereiro, a Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto inaugurou a exposição Édipo/Antígona – Desenhos de Siza Vieira com Textos de Valter Hugo Mãe.
Tal como o próprio título da mostra indica, é-nos dada a possibilidade de ver desenhos de Siza Vieira com bases na história de Édipo e de Antígona e textos que Valter Hugo Mãe escreveu a partir desses desenhos.

No presente artigo, podem descobrir um bocadinho do que vos espera ao visitar esta exposição que combina Desenho e Palavras.

Nesta exposição, o traço de Siza Vieira (n.1933) leva-nos até ao mundo da tragédia grega, mais concretamente a duas personagens criadas por um dos mais importantes autores de tragédia, o dramaturgo grego Sófocles (496 a.C. – 406 a.C.): Édipo Rei e Antígona, personagens essas que pertencem a uma trilogia: Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona, exactamente por esta ordem.
De forma bastante resumida, Édipo estava destinado à maldição de matar o seu pai e de casar com a sua própria mãe. Deste matrimónio incestuoso nasceram quatro filhos (que ao mesmo tempo são irmãos de Édipo). Uma dessas crianças era Antígona.
Antígona foi a única filha que não abandonou Édipo quando ele foi expulso do seu reino pelos seus dois filhos, tendo acompanhado o pai no exílio até à sua morte.

Édipo é uma personagem que vem sendo abordada ao longo dos anos. Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), por exemplo, no seu conjunto de anotações a que deu o nome de Poética considerou a obra Édipo Rei como o mais perfeito exemplo da tragédia grega.
Já num campo completamente diferente, temos o Complexo de Édipo criado por Sigmund Freud (1856-1939) para designar o conjunto de desejos amorosos e hostis que um filho (rapaz) enquanto criança experimenta na relação com a mãe. Não é cientificamente aceite, por se concordar que há falta de provas.

Deste modo, não é estranho perceber como também Siza Vieira tenha tido vontade de adaptar esta tragédia grega e de lhe dar vida nas suas linhas desenhadas. Começou por criar os desenhos de Édipo há quase 10 anos, em 2014; já os desenhos relativos a Antígona são mais recentes, tendo sido criados em 2019, enquanto o artista português preparava a exposição SIZA – Inédito & Desconhecido, a qual teve lugar em Berlim.
Siza adapta a história ao seu e ao nosso mundo, sendo possível vermos um desenho com um carro moderno ao invés de uma carroça como a qual Édipo usaria.

Podemos ver estes desenhos numa escala maior àquela em que o artista os trabalhou primeiramente num caderno acordeão. São linhas simples que, ainda assim, nos transmitem toda a tragédia que envolve esta história com milhares de anos. É essa a maior semelhança ao mundo clássico que o arquitecto português aqui reinterpreta – o lado trágico de tudo, pois a nível de linguagem estética das suas linhas, não poderia estar mais longe do que saiu das mãos dos artistas gregos daquele tempo. E essa é também a beleza da Arte – as conexões que se conseguem criar entre obras mesmo que estas sejam separadas por séculos e mesmo que criadas de modos estilisticamente muito distintos.

Os textos de Valter Hugo Mãe (n. 1971) levam-nos exactamente nesse caminho de sentir as linhas desenhadas por Siza Vieira de modo profundo, mas ao mesmo tempo com alguma sensibilidade. São algo puro, do momento e sem grandes artifícios da imaginação.

As palavras de Sófocles servem de inspiração a Álvaro Siza Vieira cujos desenhos servem, por sua vez, de inspiração aos textos de Valter Hugo Mãe, criando uma bonita cadeia de ligação entre o Teatro, as Artes Plásticas e a Literatura.

A exposição Édipo/Antígona – Desenhos de Siza Vieira com Textos de Valter Hugo Mãe pode ser visitada na Galeria II da Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto até ao dia 6 de Maio.
De Segunda a Sexta-Feira das 10h às 13h e das 14h30 às 17h30 e aos Sábados das 15h às 18h.
A entrada é livre.
Para mais informações, podem consultar: Casa Comum.

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